Lorenzo Mammi

Galeria Sergio Milliet (Outubro 1988)

Pode-ser fazer e pensar a escultura como jogo de equilíbrio, construção, justaposição de formas. Ou pode-se imaginar a obra como produto de uma ação, como se fosse um instante (imóvel, porque sem tempo) recortado na parábola de um movimento. O primeiro tipo de escultura se expande, idealmente, na horizontal, cria e estrutura um espaço. O segundo mergulha em profundidade, através de duas falsas extensões: a hipótese de um passado e a promessa de um futuro desenvolvimento.

Os trabalhos de Frida Baranek parecem restos, testemunhos de um desastre. A razão de ser deles está em outro lugar — um impacto ou uma explosão, já ocorridos e concluídos. Em uma série de obras imediatamente precedente a esta que ora se expõe, o evento (a queda de uma pedra sobre chapas de metal, por exemplo) parecia ter acabado de acontecer. A reação do material era aquela, imediata, de quem reage a um golpe. Nestas últimas esculturas, ao contrário, o trauma se coloca mais atrás. Intui-se que algo de grave aconteceu, mas já reagiram e estão recaindo sobre se mesmos.

A ferrugem que recobre o metal lembra que houve em tempo em que aquelas superfícies foram lisas e lúcidas. Mas também sugere que o processo de degradação ainda não terminou e promete, para o futuro, outros ajustamentos e outras quedas. Aliás, todos os elementos utilizados por Frida são imperfeitos, falhos. Nenhum contorno nítido se contrapõe à atmosfera. O ar penetra nos objetos e os corrói. O emaranhado de fios de arame, presente em tantas esculturas, é, neste sentido, um elemento emblemático. Oferece ao olhar uma resistência impenetrável, mas não compacta. Tem-se sempre a impressão de que se poderia, querendo, ver mais fundo. A imagem parece a ponto de desagregar-se.

Esses grandes objetos de ferro não são, todavia, simples resíduos amorfos. A matéria resiste ao choque, tenta desesperadamente recuperar uma função e uma forma. Prolonga tentáculos, aferra-se ao solo, amarrota-se. Frida Baranek flagra o momento no qual os fragmentos esparsos, quase que organismos celulares, reajuntam-se e procuram reconstituir-se. É exatamente neste momento que os objetos revelam com mais evidência sua natureza de partes incompletas. Quando se erguem na vertical, é uma verticalidade inclinada, claudicante, instável. Quando se dilatam no chão, ou acabam por desfiar-se, rasgam-se. Não são eles que conquistam o espaço, é o espaço vazio que os conquista — insinua-se em todas as fendas, abre buracos, dilata as lacunas entre um elemento e outro.

A vontade de um sentido e de uma unidade está condenada ao fracasso, mas nem por isso é menos evidente. As esculturas parecem reconstruir-se, mais que construir-se, a partir de um código genético impresso no próprio material, mas agora meio apagado. As partes se procuram às cegas, reconhecem-se e unem-se, como que guiadas por um impulso bruto — no entanto, já não sabem mais articular uma estrutura. Neste esforço surdo de relembrar, prometem alguma coisa que um objeto polido e compacto talvez não pudesse mais oferecer — a incompletude deles é uma dilacerada homenagem à forma.

© Lorenzo Mammi