Aracy Amaral
Aperto 90
XLIV Venice Biennale*
1990 | Venice, Italy
A relação com o espaço é a essência do cogitar tridimensional na expressão criativa de Frida Beranek. Simultaneamente, o material se impõe de modo impositivo por sua agressividade, captada a primeiro impacto. Catastrofista pela utilização de elementos conotativos de uma sociedade industrializada, a “assemblage’ deconstrutivista preside suas instalações vitais em sua espacialidade: pedra (granito ou mármore), chapas de ferro, vergalhões e arames oxidados compõem seu vocabulário de discurso veemente, na aparência puramente intuitivo. A artista respeita o material, o que é perceptível na aceitação implícita de sua condição primeira. Em consequência, o tempo se faz presente, subsidiando a preocupação com o espaço, em sua marca intocada nos reduzidos materiais selecionados. Esta jovem artista forma, neste despontar dos anos 90, junto a outros brasileiros de mesma linhagem, como se pode afirmar pelas propostas de Nuno Ramos e Karen l_ambrecht deste momento.
A um segundo olhar, entretanto, a linearidade do desenho parece se insinuar através da transparência da “massa” tridimensional explicitando a manipulação que ela opera com seus materiais adequando-os à sua proposta. Frida Baranek “concebe a imagem”, como diz, antes de realizar sua instalação, mais mentalmente em primeira instancia. No entanto, o gestual do desenho é visível em seu trabalho, fruto de experiências passadas, disciplina de exercícios que se mantém embora hoje como meras anotações, a revelar formas/planos como um penetrável que se transpõe pelo olhar através do emaranhado do aramado oxidado. Uma poética se evidencia, assim, com intensidade e leveza, nestas instalações surpreendentes. Aqui, o equilíbrio – nele implícito a estrutura – a espacialidade e o linear se combinam em aparentemente insólita confrontação de instigante sensorialidade.