Text PT-BR2024-06-03T20:34:57+00:00

Corpo como lugar, arte como exílio*

Bololô, a concentração amorfa de material, é um elemento básico de muitas obras de Frida Baranek, algo tão particular ao seu trabalho que pode ser considerado como uma assinatura. Chumaços de fios de arame são materiais comuns, passíveis de serem associados ao refugo. Contudo, ao serem por ela expandidos e agregados a outros elementos, também em si semanticamente triviais, são transmutados, ganham novos sentidos. Como ocorre em Unclassified, de 1992, e em BBB, de 1993 – nuvens metálicas que se expandem espacialmente, agregando fios, planos metálicos, componentes de aviões, ar, olhares, interpretações.

Esses murundus, outro termo a ressoar nessa obra, por vezes são constituídos com chapas de metal, vergalhões e pedras. Variam os elementos, mas persiste a articulação de coisas ordinárias para gerar algo distinto, significante, mais especificamente arte.

* por Roberto Conduru, em Frida Baranek
LIVRARIA DA TRAVESSA

FRIDA BARANEK
isbn: 9788589365475
idiomas: English / Portuguese
págs: 240
editora: Barleu Edições Ltda

by Ana Carolina Ralston

Entre as tantas reinvenções da modernidade está o fato de termos gradativamente mudado o lugar e o estado das relações sociais. Se na Idade Média o objetivo era perdurar e estabelecer laços fixos e imutáveis, nos tempos atuais o deslocamento e a maleabilidade são chave para a compreensão de um mundo novo e flexível. [...]

por Paulo Venâncio Filho

Perspectivas Recentes Da Escultura Contemporânea Brasileira

O que se pretende colocar em questão é a escultura. Mais do que isso: trata-se de apresentar as possibilidades atuais de escultura. O momento de destruição dos cânones clássicos pelas radicais ações modernas não foi só uma total reformulação do tema, do objeto e das técnicas; foi também uma subversão do lugar da escultura. Pode-se dizer que, a partir daí, como se submetida a devastadoras forças centrípetas e centrífugas, ela foi deslocada de sua posição paradigmática: centro do espaço. Suprimida a verticalidade originária, desfeita a base, encontrou-se [...]

por Lorenzo Mammi

Galeria Sergio Milliet (Outubro 1988)

Pode-ser fazer e pensar a escultura como jogo de equilíbrio, construção, justaposição de formas. Ou pode-se imaginar a obra como produto de uma ação, como se fosse um instante (imóvel, porque sem tempo) recortado na parábola de um movimento. O primeiro tipo de escultura se expande, idealmente, na horizontal, cria e estrutura um espaço. O segundo mergulha em profundidade, através de duas falsas extensões: a hipótese de um passado e a promessa de um futuro desenvolvimento. Os trabalhos de Frida Baranek parecem restos, testemunhos de um desastre. [...]

por Aracy Amaral

Aperto 90 - XLIV Venice Biennale*

A relação com o espaço é a essência do cogitar tridimensional na expressão criativa de Frida Beranek. Simultaneamente, o material se impõe de modo impositivo por sua agressividade, captada a primeiro impacto. Catastrofista pela utilização de elementos conotativos de uma sociedade industrializada, a “assemblage’ deconstrutivista preside suas instalações vitais em sua espacialidade: pedra (granito ou mármore), chapas de ferro, vergalhões e arames oxidados compõem seu vocabulário de discurso veemente, na aparência puramente intuitivo. [...]

por Paulo Herkenhoff

Rio de Janeiro, 1999

Entulhos. Monturos de ferro e pedra. Restos de uma construção desastrada. Assim pode parecer a escultura recente de Frida Baranek ao olhar que sucumbir frente às exigências lógicas de sua obra. A própria artista propõe a tentação da falácia na referência às situações “reconstrutivas de sua escultura”. Nos últimos anos, depois do pouso e do alarido da pintura neo-expressinista, assenta-se a poeira dos prazeres pictóricos. Passou uma banda de música, que deixou seus sons e pintura. Agora vê-se melhor a cena da escultura no Brasil. [...]

por Knut Ebeling

Fios e Tubos

Até o presente as obras de Frida Baranek podem ser caracterizadas dentro da concepção Wittgensteiniana do saber como fio. Suas combinações formavam um todo orgânico cuja força residia na assimilação das diferenças. A presença física de sua obra não provinha de uma única e coerente unidade de material mas de uma dupla desintegração; primeiro, o todo desintegrado pela mistura alquímica de diversos materiais e, em seguida, a profunda desintegração de cada um destes mesmos materiais. Wittgenstein escreve: "Nós expandimos as nossas idéias [...]

por Jean Marie Wasilik

Pausa Longa

O que me impressionou de imediato nas esculturas de Frida Baranek foi a maneira coma elas, ao mesmo tempo, resistem e cedem perante a sua própria materialidade. O domínio que ela exerce sobre os seus meios não parece nunca controlador, pelo contrário: no lugar disso, há uma entrega palpável perante a fisicalidade dos materiais que a artista usa, que têm sido muitos. São arames de bronze e ferro, pigmento em pá, sisal, seda, balões de borracha murchos e esgarçados, chapas e correntes de ferro, fragmentos de aviões e mármore em blocos, lascas e grãos.

por Oscar D’Ambrosio

Pensamento em ação

Um dos maiores enigmas da história da arte, com ramicações, é claro, na psicologia e em ciências correlatas, está nos fatores que levam ao fenômeno da criação. Por mais que se escreva sobre isso-e as teorias são inúmeras-três elementos se articulam de múltiplas maneiras: a intuição, o pensamento e o conhecimento. A partir da intuição, valendo-se do pensamento plástico e do conhecimento dos materiais, Frida Baranek utiliza arame, ferro, madeira, pedra, plástico, cobre, aço inox e alumínio como suas principais matérias-primas. [...]

por Luiz Camillo Osorio

Despojamento e instabilidade (Junho 2009)

A trajetória de Frida Baranek está marcada pelos seus deslocamentos constantes. Uma diáspora poética voluntária que a fez sair do Brasil, estudar nos Estados Unidos, voltar ao país, mudar-se para a Europa, Paris e depois Berlim e, finalmente, fixar residência em Nova York. Assumidamente sem lugar — ou sendo um pouco de todos os lugares ao mesmo tempo — buscou na escultura um contraponto ao movimento. O peso e uma materialidade bruta são desde os anos 1980 elementos recorrentes de sua poética, uma forma provisória de enraizamento dada a contingência do movimento. [...]

por Catherine Bompuis

Confrontos

A escolha das obras de Frida Baranek para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro obedece ao desejo de tornar visíveis alguns momentos de um percurso iniciado em 1984. Desde seus primeiros trabalhos elabora-se a relação que, ao longo desses anos, a artista empreenderá com a matéria de sua escultura, relação que desafia sua resistência para levá-la à sua metamorfose: construir com e contra. Confrontos remete tanto a uma atitude quanto a um processo de trabalho, introduzindo uma dimensão afetiva que transmite ao objeto uma vivência, uma emoção[...]

por Roberto Corundu

Jogar/Viver

Em Mudança de Jogo, pode ser tomada como um sinal de transformação a ausência dos elementos metálicos que se tornaram característicos da obra de Frida Baranek. Contudo, muitos dos materiais que constituem as novas esculturas foram por ela usados anteriormente. Em verdade, seu trabalho tem usado matérias dos reinos mineral, vegetal e animal processadas, como o pó de mármore e as peças de borracha, feltro e couro, ou conformadas como artefatos — neste caso, varetas e bambolês de vidro, sacos de cânhamo, corda de sisal. [...]

por Roberto Corundu

Art Nexus (Outubro 2017)

Reflexions on the Horizon fue creada a partir del impacto que Frida Baranek recibió del paisaje de la Deering Estate ́s Mission, en Miami, en donde es artista residente desde octubre del 2016. La instalación está compuesta por siete elementos articulados a las palmeras, constituidos por rollos de cuerda que tienen es sus extremidades placas de acrílico de diversos colores y grabados curvilíneos, y están colocados para que las personas [...]

por Rafael Fonseca

Liminaridade 2019

Os limites entre materiais e também aqueles relativos à escultura e o seu entorno são alguns dos interesses centrais na nova série de trabalhos de Frida Baranek. Essa equação entre matéria e espaço é inerente à escultura em sua perspectiva histórica; da Antiguidade à efemeridade das instalações realizadas nos últimos 50 anos, mostrar um objeto artístico tridimensional sempre se configura como um tensionamento entre escalas, cores e materialidades. [...]